Por Alexandre Braga...
Boleirada brasileira, uma ótima tarde!
A despedida de um craque do futebol brasileiro é sempre triste, jogador e
torcedor compartilham as lágrimas e fica a sensação de que aquele lugar
no campo nunca será preenchido a altura. Fica ainda uma inevitável
impressão de que o amor à camisa não existe mais e que o dinheiro é quem
manda no futebol, essa segunda opinião é praticamente uma unanimidade
quando o assunto é a transferência de um atleta para o exterior.
No
caso do Santos é contrário, em uma negociação, que a princípio parecia
muito inteligente, o Santos conseguiu manter Neymar por muito mais tempo
do que qualquer time brasileiro jamais conseguiu segurar um craque
desse nível e é inegável o amor de Neymar pelo Santos. Claro que a jóia
ganhou muito dinheiro, é impossível andar pela rua olhando o
merchandising em pontos de venda, ou ainda, ligar a TV por 15 minutos, e
não ver uma publicidade com Neymar. Mas e o Santos, quanto ganhou com
isso? Valeu a pena?
A idéia de manter Neymar no Santos, ganhando
com publicidade e diminuindo a sua multa rescisória, a medida que o
final do contrato se aproximava, até o ponto em que o Santos não
lucraria nada com a transferência em junho de 2014, era uma aposta, de
que a permanência de Neymar por mais dois anos e meio poderia aumentar o
número de torcedores e lucrar com o programas de fidelidade na venda de
ingressos, cotas de TV e material oficial do time. Algo parecido com o
que já fazem os clubes de maior torcida do Brasil: o Flamengo,
Corinthians e São Paulo respectivamente, entre outros.
A venda de
Neymar um anos antes da Copa de 2014 é um indício muito forte de que o
projeto não funcionou conforme o esperado. Isso porque o que o Santos
irá lucrar agora com a venda não seria gerado em receitas no próximo
ano, caso contrário, não seria interessante vender o jogador neste
momento. A maior questão que o torcedor se pergunta em uma hora dessas é
o que deu errado. Talvez a diretoria santista tenha superestimado o que
um grande atleta é capaz de somar a um clube, ainda mais se tratando de
um projeto a longo prazo. A primeira meta supervalorizada na
permanência de Neymar foi o aumento da torcida, pelas palavras do
presidente: “Se tornar a terceira torcida do estado de São Paulo”, pelos
dados recentes em pesquisas o Palmeiras tem cerca de 6% da torcida do
Brasil e a terceira de São Paulo, portanto o alvo santista, já o Santos
tem por volta de 2 a 2,5% atualmente.
Qualquer ação de marketing
(pois foi isso que o Santos fez) que visa triplicar o número de
"consumidores" em tão curto prazo é no mínimo ousada. O São Paulo
aumentou sua torcida, de forma exponencial, dos anos 80 para cá, muitos
atribuem esse aumento aos títulos conquistados por Careca, Muller e os
Menudos do técnico Cilinho somados à grande fase do tricolor do Morumbi
durante a gloriosa era de Mestre Telê Santana. Por outro lado, reza a
lenda que a torcida corintiana se multiplicou, ao ponto de ser a única a
fazer frente à nação rubro negra (e até superar a torcida do Flamengo
em algumas pesquisas) durante o doloroso período de 23 anos de jejum de
títulos. Independente do que tenha ocorrido com outros clubes em outras
épocas, o que se sabe é que não se tem ao certo a receita do que faz uma
torcida crescer. O Santos acreditou que Neymar seria esse veículo.
Para
que isso desse certo, em tão pouco tempo, o mínimo que o Santos
precisava era de mais títulos, principalmente no ano do centenário. Não
conseguiu! Além do tricampeonato paulista, nada mais foi conquistado em
2012 e em 2013, sequer uma participação na Libertadores o Santos
conseguiu, pior, as dispensas de ídolos recentes da torcida, como Elano e
Ganso, enfraqueceram o setor de meio campo, o futebol discreto
apresentado por André no comando de ataque e mais, a longa parada devido
a contusão do capitão Edu Dracena fizeram com que Neymar se tornasse
uma andorinha sozinha incumbida de fazer o verão do alvinegro da Vila
Belmiro. Como já dizia o velho ditado, isso não acontece.
Agora
resta ao Santos o caminho natural das coisas, vender um grande craque ao
Barcelona e tentar se reconstruir com o dinheiro arrecadado com a
transferência. Mas fica a dúvida, se tivessem vendido Neymar anos atrás,
arrecadado mais do que o dobro do que vão arrecadar agora, seria melhor
financeiramente para o clube? E a torcida do Santos, cresceu nos
números que a diretoria esperava? Uma das conclusões que se pode chegar é
de que um projeto, como o que o Santos queria, era de longo prazo e a
permanência de Neymar por apenas 1 ano e meio não foi suficiente e
venderam o jogador agora, antes que o prejuízo fosse maior.
Já
começam a cogitar a volta de Robinho e até de Diego ao Peixe, ídolos que
brilharam há mais de 10 anos e que não vêm apresentando o mesmo futebol
de antes, pelo simples fato de que 10 anos é muito tempo na vida de um
jogador de futebol. Estaria o Santos cometendo o mesmo erro do Palmeiras
com Valdívia, Felipão e Kleber Gladiador? Trazer ídolos do passado para
satisfazer a torcida sem considerar o lado técnico? Só o tempo dirá.
"Olhares atentos,
Olhar do Torcedor!"
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